Sobre mim

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

É só o amor?

"Eu te amo, eu te  amo
Não posso mais viver sem você"



Tudo muda, nada permanece, só existe mudança. Isto aplica-se a muitos níveis e também aos relacionamentos. 

Ouço amigos e pessoas todos os dias fazendo declarações de "amor" absurdas e que não são nada saudáveis.
"Eu morro sem você", "minha vida não teria sentido sem você",  "Sem você eu não sou nada", " eu preciso de você pra ser feliz" e fora outras coisas que se eu precisar adoçar o café é só imprimir uma folha com essas melações e jogar que vai ficar docinho !

O problema não é amar alguém, mas essas palavras acima citadas tem realmente um peso!

Como assim eu "morro sem você"?  Han? A partir do momento que se envolvem em um relacionamento as pessoas se tornam letais então?

"Minha vida não teria sentido sem você" - como se todo o sentido da vida estivesse baseado em outra pessoa! A vida é muito mais que isso! Somos nós os únicos responsáveis a dar sentido à nossa vida.

E nem vou comentar do "sem você eu não sou nada", que isso já é apelação demais!

E isso não quer dizer, em hipótese alguma que eu seja uma pessoa insensível, fria, sem coração e todos os outros sinônimos! Eu apenas aprendi a me respeitar como pessoa e a enxergar que a pessoa mais importante na minha vida sou eu mesma.
Eu só conseguirei ser feliz se antes eu tiver feliz comigo mesma, e mais: alcançando meus objetivos, realizando coisas pra minha satisfação pessoal e dividindo com a pessoa que amo e não da qual eu dependo.

Relacionamentos devem agregar coisas e não subtrair. E pra mim é loucura ter que se desfazer de um sonho por causa de alguém.

Não acredito na "metade da laranja". Ninguém pode ir a um relacionamento só por metade, incompleto. Ninguém completa ninguém, as pessoas se somam, dividem alegrias. Metade da laranja não funciona.As pessoas tem que ir completas pra um relacionamento e não pela metade! 

Pessoas que fazem de um relacionamento amoroso a única meta de suas vidas não tem como ser 100% felizes.

NÃO, NÃO e NÃO!

Amor não é "meta"... Pessoas que nos despertam interesse e que desejamos ter por perto não são metas.  Ninguém pode querer nada em troca. É algo mais simples que isso.

Acredito que precisamos sim de alguém ao nosso lado, apoiando, dividindo momentos e partilhando de nossa felicidade. Isso é essencial, isso faz com que nos tornemos pessoas dignas e nos ajuda a crescer juntos e não usando ninguém de muleta. Mas jogar a responsabilidade nas mãos dessa pessoa é  o mesmo que dizer " de hoje em diante eu te responsabilizo total e irrevogavelmente por minha felicidade. Quaisquer sofrimentos por você que venham a ser causados é de sua inteira responsabilidade".


Eu acho que ninguém gosta de saltar de relacionamento em relacionamento durante muito tempo. Existe todo o entusiasmo e estimulo da novidade quando se conhece uma pessoa, quando se descobre uma nova paixão, mas só isto não é satisfatório. No fundo acho que procuramos todos uma relação que dure, que se aprofunde, que gere uma cumplicidade forte, procuramos um companheiro para a vida. E surge "naturalmente" um forte apego. Não queremos perder a pessoa com quem estamos. E de certo modo cultivamos este apego pois queremos que a relação dure.  Apego é causa do sofrimento. 

Criamos inúmeras vezes na nossa mente, no nosso corpo emocional, a ilusão de que o outro nos pertence, que nós temos posse sobre o outro e também vendemos a ilusão que o outro tem posse sobre nós... e neste jogo emocional vivemos anos, vidas inteiras e criamos laços carmáticos profundos... e o mais irônico, para não dizer o mais triste, é que nos atrevemos, presos a esta visão distorcida, a chamar isto de amor!
O verdadeiro sentido do amor vai muito além da posse, do apego, do rancor, da culpa e de alguns sentimentos que nos confudem quando não olhamos para nós mesmos. E sinceramente temos a mania de achar que o amor é algo que se busca, algo para ser encontrado em alguma esquina. Buscamos o amor nas festas, nos bares, restaurantes e agora também na internet. E a mídia está aí: nos vendendo amor em cada esquina, nas novelas, nos livros teens, nas músicas (aquilo é música?) coloridas, nos poemas em que o "eu" é menosprezado.
Parece ser algo urgente, pois nos ensinaram quem só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.
Há um grande equívoco nessa procura ansiosa, cada vez mais acelerada, cada vez mais esquisita. Amor não é remédio, não existe para curar um mal estar que você mesmo criou dentro de si e que, portanto, só você mesmo pode curar. Portanto, se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará. 
Caso o faça, vai frustrar todas as suas expectativas, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza. O amor não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da baixa alto-estima. O amor não é tolo, quer ser bem tratado, escolhe as pessoas que, antes de tudo tratam bem de si mesmas. Ao contrario do que se pensa, ele não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo mais dará certo.
Nada é garantia. A gente apenas escolhe continuar tentando,velejando, buscando.
É miserável demais colher migalhas de alguém!
Uma breve analogia:

A Maria e o João foram casados por quase 20 anos. O João se apaixonou pela Joana e foi embora em busca da sua felicidade, real ou ilusória, não importa aqui. Isto já faz dez anos... O João foi embora mas continuou iludindo a Maria. Não permitia que ela se desprendesse dele. Visitava-a constantemente, a presenteava sempre, escrevia cartas dizendo da sua ligação com ela, que não conseguia esquecê-la, mas que não tinha forças para deixar a Joana pois ela era tão frágil... tão necessitada dele... e que a Maria sim, era forte, e como ele a admirava por isso e que a Maria poderia compreender e esperar que ele resolvesse a situação... e que tentaria resolver o mais breve possível e em algumas vezes até deixava transparecer que seu desespero era tão grande que poderia até se suicidar e que a Joana era tão dependente que se ele a deixasse provavelmente ela seria capaz de fazer uma loucura e o que seria dele? E a consciência e responsabilidade dele? Nunca mais se perdoaria. A Joana era tão depressiva... até tomava vários medicamentos... e a Maria nisso tudo? Um verdadeiro exemplo de desapego... negou a própria vida, parou de lutar por suas metas, escondeu-se atrás destas migalhas ilusórias e ficou aguardando esperançosa o retorno do João; ficou adiando ser feliz por todos esses anos... Quando o João retornasse como seriam novamente felizes!

Desapego? Amor incondicional? Baixa auto-estima? Sim, pode até ser amor mas o amor incondicional é desapego e desapego é amor incondicional... é querer a felicidade e o bem estar do outro e de si mesmo. Mas para amarmos o outro temos também que nos amar e nos respeitar. Será que não é um apego tão forte, tão enraizado, que não permitimos que o outro seja feliz e num grande auto boicote, optamos em sermos infelizes para não nos desapegarmos do outro e não permitirmos que o outro se desapegue de nós.

O que aparenta desapego é um profundo apego; tão forte que preferimos renunciar à própria felicidade do que renunciarmos ao outro.
Eu só passei a encontrar as pessoas que me fazem realmente bem quando eu aprendi a me valorizar e ter respeito por mim mesma. Lamentar a falta de amor não vai te trazer amor. Muito pelo contrário.
Parece muito clichê tudo isso, mas eu disse boas verdades e sei que disse. Não me acho por isso, eu apenas sei que  as coisas poderiam ser melhores se as pessoas se esforçassem a se tornam pessoas de grande valor, que contribuem para a felicidade de outras e não que sejam parasitas/muletas de alguém.
Estejamos atentos às migalhas que acreditamos merecer...

"Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim"